E ficou (quase) tudo na mesma

Dizem que a pandemia acabou e entrámos em fase endémica.

Talvez seja demasiado recente para balanços, no entanto, algumas perceções vão sendo claras. Primeiro, não ficou tudo bem, o que não será surpreendente uma vez que nada está sempre bem e a dinâmica do mundo assim o dita, desde o início dos tempos. Por outro lado, “as pessoas” não mudaram, ou fizeram-no mas não no sentido do bem comum, claramente. Do meu lado a esperança no que virá lá se vai salvando mas com muitas interrogações e, de momento, está lá mais ao fundo onde a vista não alcança.

Naquilo que diz respeito às pessoas, ao seu desenvolvimento, à forma como o trabalho é encarado, indiscutivelmente acelerámos a digitalização e ainda bem que o fizemos mas na essência mantemos as prioridades. Aquela ideia romântica de que a pandemia nos faria repensar no que é verdadeiramente importante, não passou disso mesmo, de uma ilusão. E assim sendo deparamo-nos agora com os medos normais e justificados do mundo, da recessão, do que está para vir mas mantemos a nossa individualidade bem vincada, digo, mantemos o centro em nós próprios. Esta será, no meu entender, a pior das constatações: o sentido do outro, da comunidade, da pertença a qualquer coisa maior do que o eu, está em crise. Grave crise. E quando não percebemos que isoladamente vamos muito rápido e muito longe e ganhamos tudo, chegamos lá ao topo sozinhos, olhamos em volta e não está ninguém. E nós somos seres sociais, não há como fugir disto.

Concluo este “mais desabafo do que balanço”, preocupada e até um pouco desiludida com esta construção que não é a construção que sonhei.

Patrícia Ervilha, 2022

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