Na semana passada joguei matraquilhos

Novembro não está fácil. Outubro foi difícil. O mundo insiste na implosão. A dificuldade que tenho em lidar com a queda do mundo não melhora, não simplifica, não desdramatiza. Não consigo ver as imagens que me querem fazer ver. Não aceito a morte em direto. Não aceito a barbárie em nenhum lado da barricada. Controlo? Não. Posso fazer alguma coisa? Pouco mais do que doar uns euros na expetativa que cheguem a algum lado.

Há uma estratégia que prolifera: assobiar para o lado que é o mesmo que faz a avestruz, apenas de forma diferente. Por vezes, parece que outras pessoas não vivem neste meu mundo que dói tanto. A palavra “felicidade” é escrita e reescrita em cada “post” de uma rede social. Como assim? Felicidade?

A ditadura da felicidade ganhou. E eu lamento mas é uma ilusão, é um entretenimento, é um espetáculo que vende bem e não sou eu que o digo, são anos e anos de investigação social. A felicidade são momentos que, por um conjunto de circunstâncias se conjugam de forma positiva, despoletando sensações agradáveis pela ativação das hormonas do bem. Como tão bem o explicaram Edgar Cabanas e Eva Illouz, a felicidade é também um caminho, nunca um fim, a felicidade passa.

Foi o que me aconteceu, na semana passada, quando fui jogar matraquilhos. A explosão de adrenalina transformou-se em alegria que, por sua vez, me permitiu um momento mais prolongado de satisfação, até talvez um momento de felicidade. Todas as sensações associadas a este momento foram boas, no sentido em que foram agradáveis e até me fizeram relaxar e rir. Depois, voltei a casa e o mundo continuava a implodir. E era também o meu mundo. Não sei se me fiz entender.

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