Enquanto escrevo este texto, ouço “River” de Leon Bridges, uma canção que me embalou todo o ano, lindíssima, com um groove perfeito. Não sei nada de música, sou incapaz de afinar seja qual for o tom mas, como cantou Jobim, “no peito do desafinado também bate um coração”, o que me torna por natureza musicalmente dependente.
Então não vou descrever quantas horas estive online? Quantos clientes ganhei? Quantas trabalhos correram pior? Não. O meu balanço de 2023 é sobre as músicas que ouvi, os filmes que vi e os livros que li porque em 2023 decidi viver mais e mais devagar, porque em 2023 percebi que o tempo nos foge de uma forma irreversível, que a minha grande ambição é encontrar alguma paz num mundo que não escolhi, que não me pergunta se gosto, que não me ensinaram a percorrer.
A minha utopia não era esta e a minha distopia não poderia conceber 2023 neste caos. Como sempre, a realidade superou a ficção. Não sou indiferente a nada do que se passa à minha beira ou longe de mim. Sofro as dores do mundo. Assim, não me resta mais do que concretizar os pequenos nadas que me dão alguma tranquilidade, olhar para os meus e agradecer, estar ali quando o sol se põe ou as estrelas brilham mais, escrever as palavras que tantas vezes ficam sem voz.
E é assim que aguardo 2024, com a esperança mínima mas pacificada, com a inquietação que sempre me acompanha e até define mas sem ânsias de controlo porque a clarividência da minha insignificância não hesita e por isso espero que a próxima volta até me possa surpreender.
Oxalá.
*Tom Jobim, autor e compositor

Deixe um comentário